"À superfície marinha afloravam alforrecas transparentes, vibravam um pouco, e ondulando levantavam voo em direcção à Lua. A pequena Xlthlx divertia-se a apanhá-las no ar, mas não era fácil. Uma vez, esticando-se de bracinhos para a frente a fim de agarrar uma, deu um pulo e também ficou a pairar. Magrinha como era, faltavam-lhe umas onças de peso para que a gravidade a trouxesse de volta para a Terra vencendo a atracção lunar: assim ficou a esvoaçar no meio das alforrecas suspensa por cima do mar. Assustou-se muito, chorou, depois riu-se, e a seguir pôs-se a brincar apanhando em voo crustáceos e peixinhos, levando alguns à boca e mordiscando-os. (...) A ideia de pôr-se a comer os bichinhos suspensos no ar foi muito boa; quanto mais Xlthlx ganhava peso mais descia para a Terra; aliás, como no meio daqueles corpos a pairar o seu era o de maior massa, começaram moluscos e algas e plâncton a gravitar sobre ela, e em breve a menina estava coberta de minúsculas cascas silicosas, couraças quetinosas, carapaças, e filamentos de ervas marinhas. E quanto mais se perdia naquele emaranhado, mais se ia libertando da influência lunar. até que tocou o espelho das águas e nele mergulhou."
Italo Calvino, in "Cosmicómicas"
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