terça-feira, fevereiro 27, 2007

Filho: Pai.
Pai: Diz.
Filho: (Esticando o braço e apontando para o horizonte.) Olha aquele moinho.
Pai: Onde é que estás a ver um moinho?
Filho: Ali.
Pai: Aquilo não é um moinho, filho.
Filho: Então o que é?
Pai: Um gigante.
Filho: Um gigante?
Pai: Sem a mínima dúvida. Olha bem. Agora está quieto, vigiando a paisagem. Mas daqui a pouco vai-se pôr a andar e a cada passada avançará uma légua.
Filho: (Depois de um intervalo de Silêncio.) Pai.
Pai: Diz.
Filho: (Com uma voz compungida.) Não me parece gigante nenhum.
Pai: Mas é.
Filho: Um gigante com portas e janelas? Um gigante com telhas e velas?
Pai: Um gigante.
Filho: (Depois de uma pausa.) Pai.
Pai: Diz.
Filho: Eu só vejo um moinho.
Pai: Como? Um moinho?
Filho: Sim, um moinho. O mesmo de sempre.
Pai: (Com voz grave.) Tomás.
Filho: O que é?
Pai: (Voltando lentamente a cabeça e olhando o filho directamente nos olhos.) Preocupas-me.

Silêncio. Pai e Filho permanecem imóveis, sem trocar mais nenhuma palavra. Chega por fim a noite e a lua acende-se.

Javier Tomeo, in "Histórias Mínimas"